Em audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se mostrou surpreso com a deterioração do cenário da economia brasileira nas últimas semanas. Em sua participação na Comissão, o ministro se perguntou: “O que está acontecendo?”. E, em seguida, respondeu a sua própria pergunta: “A impressão que dá é que há um fantasminha – sabe? – fazendo a cabeça das pessoas e prejudicando o nosso plano de desenvolvimento”. Apesar da surpresa do ministro e da insinuação de que tem alguém jogando contra seu plano (seria seu próprio partido?), não é difícil avaliar as causas da deterioração recente do cenário.
A deterioração teve início com o anúncio de que as metas de superávit primário em 2025 e 2026 seriam afrouxadas, passando de superávit de 0,5% e 1,0% do PIB, para superávit 0% e 0,25% do PIB, respectivamente. Este afrouxamento das metas confirmou para os investidores a percepção de que o governo atual tem pouco compromisso com as metas de superávit primário. Caso seja necessário reduzir despesas para cumprir as metas, o mais provável é que elas sejam afrouxadas. Com isso, perdeu-se a âncora fiscal.
O resultado da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) gerou dúvidas quanto à postura da nova diretoria da instituição que irá assumir a partir de 31 de dezembro de 2024. Em especial, a divisão dos membros do comitê entre os indicados pelo atual governo (que votaram por uma redução de -0,5 ponto de porcentagem da Selic) e os indicados pelos governos anteriores (que votaram por redução de -0,25 ponto de porcentagem), fez com que parte dos investidores ficassem em dúvida se a nova diretoria vai persistir na estratégia de perseguir a meta para a inflação ou se contentar em manter a taxa de inflação no topo do intervalo de metas.
Fernando Haddad questionou prognósticos sobre a economia brasileira em audiência na Câmara dos Deputados Foto: Vinicius Loures / Câmara dos Deputados
A declaração do ministro de que a meta para a inflação de 3,0% ao ano é “exigentíssima para as condições da economia brasileira” jogaram mais lenha nessa fogueira, ao trazer de volta ao imaginário dos investidores a possibilidade de que a meta seja aumentada, caso seja necessário manter a Selic em nível elevado para atingi-la, comprometendo a âncora monetária.
O ministro tem razão. Tem um “fantasminha fazendo a cabeça das pessoas”. Mas, ao contrário do que sugere o ministro, este fantasminha é bastante conhecido: o nome dele é credibilidade e o endereço, a Esplanada dos Ministérios e o Palácio do Planalto.