No jogão de sábado, um detalhe final me chamou a atenção: 1 x 0 para o time da casa, o árbitro anunciou o tempo de acréscimo: 6 minutos. Vaia estrondosa. “Ladrão!” A torcida protestou. Achou exagero. Queria logo o fim da partida, então no modo linha contra defesa. O Cruzeiro amassava. O gol de empate, já feito e anulado vergonhosamente, poderia se repetir.
Este panorama confirma o estágio superior em que se encontra o nosso time. Palmeiras, Botafogo e Flamengo formam até agora o trio de ouro do Brasileiro, se revezando na liderança. Enfrentamos um deles de igual pra igual, sob aplausos da crítica esportiva. Isto seria impensável, seis meses atrás.
Sábado, no Allianz, após domínio inicial do Palmeiras, o Cruzeiro começou a abrir a mala de viagem. Tabelas agudas, ousadas, equilibrando o jogo. Foi de igual pra igual.
O Palmeiras fez 1 x 0. Empatamos, numa jogada de almanaque. O árbitro apitou o gol, partindo para o meio de campo. Aí, o VAR começou a pintar de vergonha o sábado esportivo. Sugeriu a revisão de jogada anterior na intermediária do Cruzeiro. Era uma forte disputa de bola, iguais a várias outras que Davi de Oliveira Lacerda, de 28 anos, deixara seguir.
Desta vez, porém, optou por se curvar à pressão da torcida. Poderia ter retrucado aos colegas, observando que a sua linha de arbitragem não marcava jogadas como aquela. Não teve peito pra isto. Foi pequeno. Fraco.
BATE PAPO NO QUINTAL
1. Torcida visitante – Repetiu-se no estádio do Palmeiras as cenas surreais comuns em clássicos envolvendo estados diferentes. Centenas de torcedores do Cruzeiro só conseguiram ingressar após os 10 minutos do segundo tempo. Infelizmente, são cenas comuns e a justificativa é a questão de segurança. As torcidas organizadas devem fazer rigorosa depuração de seus quadros, afastando baderneiros, e em seguida exigir das autoridades mais respeito.
2. Dever de casa para o goleiro Cassio, nossa defesa e o treinador Fernando Seabra: ensaiar saída de bola. Deste jeito vai matar metade da torcida.
3. Fabíola Colares sepultada sábado, sob forte comoção de familiares, amigos e da imprensa esportiva. Foi a primeira mulher setorista do Cruzeiro, trabalho até então visto como exclusividade “machista”. Brilhante, persistente, guerreira.
Romper este sistema foi tarefa a que se propôs o grande jornalista Rogério Perez, então chefe de redação do jornal “Hoje em Dia”.
Pioneiro, teve a coragem de escalar Fabíola Colares pra cobrir as atividades do Cruzeiro. Ela surpreendeu. Nota 10.
Nos meus tempos de jornalismo, tive o privilégio de trabalhar com Rogério Perez. Dele guardo aquela expressão que era sua marca registrada: o sorriso amigo, acolhedor. Como se sabe, o nosso cotidiano é formado de encontros programados ou aleatórios. Passam por nós gente carrancuda, gente chata, bem ou mal-intencionada.
Mas há tipos raros. Aqueles que aparecem como se, no dia anterior, tivessem acertado a Megasena.
Rogério Perez era desses.
4. Craque – Antenor, amigo dos tempos de calça curta e Biotônico Fontoura, jamais viu escola, depois do “diploma de grupo”. Continuou atento na universidade da vida. Sem perceber, nem admitir, tornou-se sábio e meu assessor pra assuntos aleatórios. Gosta de futebol, é cruzeirense. Quarta-feira, pós o jogão do Botafogo contra o Palmeiras, me ligou empolgado: “Descobri a definição de craque! ”
– Qual?
“É aquele cara, marcado por dois ou três, que recebe a bola no canto do campo. Como mágico, engana os adversários, sai limpo para um passe magistral. ”
Antenor dá como exemplo a jogada de Luiz Henrique, pela direita do ataque do Botafogo, e que resultou no gol de Tiquinho. Lembra que nosso lateral William, craque, já fez várias jogadas assim. Coisa rara. Normal é o “cabeça de bagre” tentar driblar e ser desarmado com irritante facilidade.
Estas situações separam craques de meros jogadores, explica ele. Durante uma partida, isto vai pouco a pouco fazendo a diferença e determinando quem ganha e quem perde. Cita aqueles que coloca na prateleira de cima: Matheus Pereira e William, do Cruzeiro; Bernard e Scarpa, do Atlético; Luiz Henrique, pelo Botafogo; Estevão, Dudu e Filipe Anderson, pelo Palmeiras. Com especial observação: Para Antenor, este último, Filipe Anderson, está um grau acima dos demais.
5. Paulo Augusto, a propósito, destaca a evolução do nosso armador Matheus Pereira. Já estaria merecendo reserva de espaço na galeria onde estão Alex, Tostão e Dirceu Lopes.
6. José Antônio, cirúrgico e cruel, cataloga as sinistras previsões de João de Deus Filho para o Cruzeiro, uma a uma, e no fim deixa a impressão de que o nosso caro “ex-Guru da Racionalidade” deve processar Mãe Dinah por estelionato.
Quem diria? No encerramento do primeiro turno, o “ex-dream team” caminhando para o brejo, abraçado com a incrível “arena mais tecnológica do mundo”!
Deuses não gostam de arrogância. Abominam prepotência. Punem o orgulho que humilha.
Falta de aviso, não foi. Há tempos, repito neste minifúndio que “a roda gira”. Pode demorar, mas gira. Para os atleticanos, meio século. Pra nós, três anos com a decisiva participação de raríssima pandemia mundial. Está passando. Vamos devagar, pra frente. Ainda não ganhamos nada e, certamente, teremos tropeços, como sábado. Faz parte. “Nem sempre ganhando, mas aprendendo a lição. ”
7. Messi Bola Murcha – Tantas vezes Bola de Ouro, um dos maiores jogadores do mundo, Messi fez papelão no episódio dos cantos homofóbicos da seleção argentina. O caso é surreal porque abertamente os jogadores ironizam menosprezando a origem africana de alguns dos integrantes da seleção francesa. Como se fosse defeito ou inferioridade. O sentimento no resto do mundo racional é de frustração. Messi poderia e deveria ter evitado.
Como tudo na vida pode ser piorado (exceção de sertanejo universitário), o presidente argentino Javier Milei demitiu o Sub-secretário de Esportes por determinar aos ofensores que pedissem desculpas.
8. Ja-1000-ton é mais um que se solidariza com os cruzeirenses mortos em desastre:
“Também procurei o nome dos torcedores para prestar homenagens a eles e não encontrei. ”
Continuo tentando e espero a colaboração do grande consulado celeste de Itabira, capitaneado pelo meu amigo prefeito Marco Antônio Lage.
Se houver culto, missa ou cerimônia póstuma, espero ter a honra de comparecer para um abraço-irmão aos familiares.
9. Destino&DNA – O sub-14 do Botafogo tem, a partir desta semana, um novo contratado: Bruninho. 1,88m, eleito o melhor goleiro da Copa Voltaço-14. Estava no Athletico-PR desde 2023. Filho de Elisa Samudio e Bruno.
GARIMPO
“Leões, crocodilos e panteras são inofensivos, mas cuidado com galinhas e patos porque podem ser muito perigosos… ’’ disse uma minhoca aos seus filhos.
(Bertrand Russel, “A relatividade da percepção”)
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