Por: Gabriela
Queda no número de leitores no Brasil revela desafios, mas os livros seguem fundamentais para formar pensamento crítico e repertório sociocultural
Se por um lado há mais acesso a informações rápidas e conteúdos fragmentados em redes sociais, por outro, a leitura de livros perdeu espaço no cotidiano, escancarando a mudança no comportamento cultural no Brasil, diante da digitalização acelerada. Dados da sexta edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada em 2024, mostram que o país perdeu 6,7 milhões de leitores em apenas quatro anos. O número caiu de 100,1 milhões em 2019 para 93,4 milhões em 2024.
O impacto é ainda mais evidente quando analisado a longo prazo. Em 2015, mais da metade da população (56%) podia ser considerada leitora, mas hoje o índice caiu para 53%. A queda ocorre em meio a um cenário em que o tempo livre é frequentemente ocupado por redes sociais, plataformas de streaming e atividades digitais, reduzindo o espaço dedicado aos livros.
Entre o digital e o impresso
Embora a leitura em telas esteja cada vez mais presente, especialistas apontam que o livro físico mantém relevância fundamental. Segundo a professora Carlota Boto, diretora da Faculdade de Educação da USP, em entrevista ao Jornal da USP, a prática de ler está ligada ao acesso a um legado cultural transmitido pela escrita. Ela afirma que esse processo é central para compreender a modernidade e desenvolver competências cognitivas profundas.
“Toda a nossa cultura da modernidade passa pelo acesso a um conjunto cultural que foi, digamos assim, acessado pelas letras, pela sistemática do impresso. E, nesse sentido, a leitura se torna um exercício importante para o acesso a esse legado cultural”, explica.
Ao mesmo tempo, bibliotecas públicas têm registrado crescimento no número de visitas, mostrando que há demanda por espaços de acesso coletivo à leitura. Um levantamento realizado pela PublishNews, de 2025, apontou aumento de 30% nas visitas às bibliotecas municipais em relação ao ano anterior, sinalizando que o livro ainda ocupa um papel importante como referência cultural e social.
O papel dos livros na formação
Para além de um hábito cultural, a leitura influencia diretamente a capacidade de argumentação, a interpretação de mundo e a formação cidadã. Em um cenário marcado pela velocidade das redes, em que notícias falsas e informações rasas circulam com rapidez, o livro se apresenta como um contraponto que pode oferecer profundidade e contexto.
Esse aspecto é especialmente relevante no campo educacional. Pesquisas da Fundação Itaú Cultural revelam que 97% dos brasileiros realizaram atividades culturais no último ano, mas nem sempre o hábito da leitura esteve entre elas. O desafio está em transformar o livro em parte cotidiana da vida social, sobretudo em um momento em que outras formas de entretenimento competem pela atenção.
Repertório e diversidade
O contato com diferentes gêneros literários – da literatura clássica às produções contemporâneas – contribui para a construção de um repertório sociocultural diversificado, capaz de ampliar a compreensão das realidades sociais, históricas e culturais. Esse repertório, ao contrário do consumo rápido de informações digitais, exige tempo, atenção e reflexão, habilidades essenciais para a formação de cidadãos críticos e engajados.
Ler vai além de adquirir conhecimento, trata-se de exercitar a empatia, dialogar com outras perspectivas e reconhecer a pluralidade de vozes que compõem a sociedade. Dessa forma, a leitura segue sendo um dos pilares mais importantes para a construção de conhecimento e de uma sociedade democrática.
Mesmo diante da ascensão de novas tecnologias, os livros preservam um papel indispensável na sociedade. Eles estimulam o pensamento crítico, desenvolvem a linguagem e mantém vivo o vínculo com a memória cultural. Valorizar o hábito de ler significa garantir um futuro em que a informação seja compreendida e transformada em ação consciente.
























